“A VERDADEIRA ESCOLA EFICAZ É A ESCOLA INCLUSIVA
Sabemos que o trabalho de inclusão não se reduz a resultados escolares e que a formação de um aluno é muito mais do que saberes e aprendizagens. Sabemos também que os resultados escolares são fortemente influenciados pelas condições sociais de partida dos alunos, em especial a escolaridade dos EE. Sendo um fator determinante, não é, como mostra a figura 4 (Modelo holístico das variáveis em interação na produção de percursos escolares), o único fator. De facto, desde os anos 60 que vários sociólogos tentam determinar qual é o efeito da escola nos resultados escolares (Armento et al., 1980; Thrupp, 2001; Thrupp et al., 2002; Thrupp & Lupton, 2006; Van Houtte, 2004, 2005). Depois de alguns estudos sobre escolas com bons resultados, que identificaram características e práticas, concluiu-se que, para se conseguir perceber qual é de facto o poder da escola, ou seja, para se determinar qual é o papel específico de cada escola nos resultados escolares dos seus alunos (note-se que não falamos de sucesso ou insucesso, que são conceitos mais amplos que não se esgotam em resultados), independentemente das origens sociais dos alunos, é necessário olhar para os resultados obtidos em provas estandardizadas e perceber se, para contextos semelhantes do ponto de vista social, cultural e económico (pois só se pode comparar o que é efetivamente comparável), há escolas cujos resultados se destacam de suas semelhantes. Foi precisamente este o exercício levado a cabo por Teresa Seabra e colegas (Seabra et al., 2014, 2016), num conjunto de estudos realizados na última década, na área metropolitana de Lisboa.
Em particular, para além dos fatores cujos efeitos são conhecidos, como a composição social da escola e das turmas ou os fatores de natureza pedagógica (ligados à prática dos docentes), estudou-se em escolas com resultados diferenciados a cultura de escola, isto é, “o modo como se fazem as coisas” em cada escola, dimensão profundamente ligada à gestão e liderança.
De acordo com os resultados dos referidos estudos, o efeito de escola é mais saliente em escolas do 1.º ciclo, perdendo-se esta vantagem nos ciclos seguintes (o ensino secundário não foi considerado neste estudo). Adicionalmente, alguns aspetos foram identificados como sendo fatores que diferenciam estas escolas de outras semelhantes em contexto, mas desiguais nos resultados:
1. Representações positivas acerca do poder da escola e do professor na produção de resultados, apoiados em crenças, valores e representações que valorizam as capacidades de aprendizagem dos alunos, independentemente das suas características de partida;
2. Práticas de gestão da diversidade social e académica que ativamente evitam a discriminação (mesmo que subtil e não intencional) de alunos vulneráveis ou oriundos de grupos sociais desfavorecidos, sobretudo: na constituição das turmas, na elaboração dos horários, na distribuição do serviço docente, pois os estudos indicam que os alunos mais vulneráveis beneficiam mais do que os seus pares favorecidos por fazerem parte de turmas mais heterogéneas do ponto de vista social e cultural. Também beneficiam mais de um corpo docente experiente e estável e horários adequados às suas necessidades. Uma medida relativamente simples passará, portanto, por considerar os atributos sociais e culturais dos alunos na formação das turmas de forma que estas fiquem equilibradas e heterogéneas, atribuindo-as a docentes experientes e com perfil adequado.
3. Comunicação inclusiva e relacionamento aberto e integrador entre todos os agentes (alunos, docentes, não docentes, famílias, instituições relevantes), não restrito aos canais e momentos formalmente estabelecidos e adotando uma lógica de cooperação e confiança.”
Retirado de "Módulo 1: Gestão da Educação Inclusiva", pág. 50
“Cada escola é, ainda assim, uma organização complexa que obedece a uma estrutura e forma partilhada com muitas outras, regulada por normas e políticas educativas comuns, mas que é singular e única em múltiplos aspetos: o contexto e o território, as pessoas que a habitam, a sua história e cultura organizacional, as práticas quotidianas, os resultados que obtém. Portanto, responder de forma simples à questão «A minha escola é uma escola inclusiva?» é difícil, uma vez que a promoção de uma educação inclusiva se desdobra em múltiplas camadas e dimensões e é um desígnio que se traduz em processos de adaptação, transformação e mudança, nalguns casos mais profunda que noutros, e que necessariamente mobiliza toda a comunidade. Mais ainda, implementar uma educação inclusiva, nos termos atualmente propostos, passa por analisar criticamente práticas, rituais e rotinas cristalizadas ao longo de décadas, por vezes, o que representa um esforço acrescido por parte dos protagonistas, exigindo às lideranças uma comunicação e ação assertiva e mobilizadora.”
Retirado de "Módulo 1: Gestão da Educação Inclusiva", pág. 52
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